Barreiras sentimentais
É incrível como a música tem o poder de me inspirar a escrever ou fazer qualquer outra coisa. Não sei, é um misto de sensações somadas aos sentimentos que, de alguma forma, acaba gerando algo muito bonito - ou quase isso. Nesse exato momento, por exemplo, estou ouvindo uma música instrumental do The Piano Guys, que são simplesmente sensacionais e faz meus dedos dançarem pelas letras do teclado de uma forma tão natural, quase que automático. Apesar de serem lindas, não é sobre música que vim falar aqui nesse texto, mas sim sobre sentimentos ou a dificuldade que temos em expressá-los.
No texto anterior falei sobre o quanto é importante e legal nos arriscarmos para vivermos coisas novas e tomarmos decisões importantes em nossas vidas. Nesse aqui irei falar sobre o quanto, às vezes, temos medo de fazermos certas coisas, mais especificamente demonstrar o que sentimos. Amar e demonstrar carinho é uma das coisas mais lindas que já vi entre duas pessoas. O toque, as mensagens carinhosas, o afeto, o olhar e todas essas pequenas formas de nos comunicarmos e transmitirmos nossos sentimentos para alguém. Nem sempre, porém, somos correspondido da mesma forma nessas nossas tentativas. Nem sempre a quem olhamos nos olhará de volta, nem sempre a quem demonstramos nosso afeto irá retribuir tudo isso pra gente. Nem sempre teremos sucesso nisso que chamamos de amor, e isso é a coisa mais normal do mundo, o problema é como reagimos à essa rejeição que o outro nos traz.
Falo por experiência própria, receber um não ou algo não sair da forma como esperamos nos dá uma certa insegurança sobre o que fazer depois. Como prosseguir? Tentar de novo ou me proteger pra sempre de tudo que possa me causar dor e sofrimento? Construir muros e barreiras e me isolar completamente do externo que nos atinge ou nos acostumarmos com isso, já que é algo tão normal? Algumas pessoas, ao sofrerem e se frustrarem, acabam arrumando uma forma de se protegerem, de criarem um escudo que, no primeiro momento, as fazem pensar que estão seguros de tudo que possa atingi-las emocionalmente, inclusive das coisas boas.
É igual nossa pele ao ser machucada: ela é ferida, sofre com a dor, se cicatriza e então forma uma pele mais forte, mais grossa e resistente a um próximo machucado ou acontecimento. Assim somos nós: ao machucarmos em algo do passado, aprendemos a criar barreiras e cicatrizes que nos tornam mais resistentes e mais rígidos para que, algum dia, caso algo parecido aconteça, não sermos tão abalados da mesma forma. O problema é que essa rigidez sentimental que criamos e essa barreira que impomos nos impedem de demonstrarmos ao outro nossos sentimentos genuínos. Essas barreiras nos isolam e nos protegem, mas, ao mesmo tempo, pode nos impedir e nos afastar de algo novo, que pode dar muito certo e ser totalmente diferente do que já aconteceu.
É triste pensar o quanto as pessoas podem perder por medo de se machucarem de novo, por medo de arriscarem algo novamente. Acabamos nos fechando pra tantas e tantas outras oportunidades maravilhosas que podem surgir na nossa vida, acabamos nos punindo e nos auto sabotando tanto com isso tudo. Não que seja culpa nossa, mas é uma das formas que encontramos para nos protegermos. O problema é que o amor, assim como a felicidade e outros sentimentos, é uma completa via de mão dupla: oferecemos pra recebermos, amamos pra sermos amado, arriscamos pra corrermos o risco de termos algo bom e até ruim. Nos privarmos de alguma dor inclui nos impedir de viver muitas coisas boas também. Amar é se permitir, é dar uma brechinha para que o outro entre e demonstre o sentimento e seu carinho, mesmo com a chance de nos machucarmos de novo, é apostarmos nossas fichas em algo que não depende apenas da gente, mas que, sem nós, não acontece.
Arriscar amar e fazer qualquer outra coisa que possui uma certa chance de dar errado pode causar muita dor, mas também nos trazer uma felicidade imensa e que pode compensar toda dor que já sofremos. A vida não é um filtro em que decidimos o que viver ou não, é oito ou oitenta, sim ou não. Não dá pra viver algo pela metade, é preciso dedicação, carinho e, principalmente, muita coragem.
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